Camila Souza Novaes
Nos últimos anos, a mídia internacional expôs vários escândalos relacionados à corrupção, que demonstraram não só a fragilidade dos sistemas políticos mas também a escala global da corrupção. A corrupção não é apenas um tema da moda, mas um fenômeno global gravíssimo que parece ter peculiaridades entre os países. No Brasil, a corrupção é um problema que oprime a sociedade, mas que parece estar diretamente relacionado à identidade coletiva do brasileiro e, para muitos, ela é intrínseca ao “jeitinho brasileiro”.
Apesar de a corrupção ser um assunto de discussão recorrente para diferentes campos de estudo, a maioria das teorias existentes sobre a corrupção é unilateral e parcial. Elas se concentram em apenas uma parte do problema, colocando a responsabilidade ou na falta de moralidade de brasileiros e seus políticos ou na ineficiência do sistema judiciário. A opinião do público leigo é superficial e tende a concluir de maneira projetiva que a corrupção é responsável por todos os problemas do país. A psicologia analítica pode contribuir com novas abordagens para o estudo do fenômeno da corrupção. Aplicando valores psicoterapêuticos a questões políticas, esta pesquisa pode vir a ajudar psicoterapeutas a abrir um caminho de duas vias entre “realidades internas” e o “mundo da política”, como propõe Andrew Samuels. Propõe-se aqui um olhar mais atento para a relação entre a realidade interna do povo brasileiro e o mundo da política no Brasil, particularmente a corrupção brasileira.
O objetivo deste artigo é analisar a corrupção em seus três diferentes (mas complementares) níveis: individual, cultural e coletivo. Discutimos os complexos culturais brasileiros e traumas culturais que já foram identificados por junguianos brasileiros e que possam estar relacionados ao atual cenário político-social do país, especialmente a versão brasileira do arquétipo do trickster (que parece estar oprimindo a psique brasileira) e o complexo cultural do malandro, que não foi ainda analisado em detalhe. Argumenta-se também que a corrupção política deve ser vista não apenas como um ato egoísta de um indivíduo, mas de forma mais ampla, como um construto social e também como algo relacionado à corrupção da própria natureza humana.
Sylvia Mello Silva Baptista
O presente artigo propõe uma reflexão sobre o conceito de ajuda no espaço clínico a partir do mito de Eros e Psiquê, chamando atenção à piedade ilícita e à necessidade de dizer “não” no processo individual de ampliação do conhecimento de si.
Patrícia Dias Gimenez
O artigo tem como objetivo refletir sobre a prática clínica do analista que trabalha com imagens, com foco principalmente no sandplay, o “brincar na areia”, técnica criada por Dora Kalff na Suíça e trazida ao Brasil por Fátima Salomé Gambini.
A partir de um trecho de uma crônica do escritor brasileiro Rubem Alves, a autora defende a possibilidade e a necessidade de ampliarmos nosso olhar de analistas. O texto ressalta a importância de o analista junguiano exercitar seus “olhos brincalhões” (termo utilizado por Rubem Alves na crônica), isto é: o analista precisa trabalhar para conquistar um olhar amplo e não limitado à necessidade de interpretação imediata do símbolo. Para isso, o analista precisa investir no desenvolvimento da sua capacidade imaginativa e precisa conquistar uma liberdade imaginativa para possibilitar o contato criativo do paciente com suas imagens inconscientes plasmadas na areia.
A autora defende que o analista junguiano que trabalha com imagens, seja com sandplay, barro, pinturas ou no trabalho com sonhos, vive um eterno processo de vir a ser um analista. Ele nunca está pronto, está constantemente em formação, está sempre aprendendo com as imagens.
Carlos Amadeu Botelho Byington
Minha teoria arquetípica da história (BYINGTON,1983) segue os passos de Bachofen e de Neumann com a modificação do conceito do arquétipo matriarcal para o arquétipo da sensualidade, e do arquétipo patriarcal para o arquétipo da organização, ambos presentes na psique da mulher, do homem e do Self cultural (BYINGTON, 2013).
Essa teoria descreve a dominância matriarcal durante a vida nômade dos primeiros 140 mil anos da história (WATSON, 2003) e a dominância patriarcal iniciada após a revolução agropastoril, mais de 12 mil anos atrás, quando nos tornamos povos assentados.
A seguir, marcada pelos mitos do Buda, há 2.500 anos, e do Cristo, há 2 mil anos, essa teoria descreve o início da implantação mitológica e civilizatória do arquétipo da alteridade, cujos heróis messiânicos pregam a elaboração dos confrontos humanos pela dialética da compaixão.
Finalizando, o artigo elabora a dificuldade da transcendência da dominância do arquétipo patriarcal para a implantação do arquétipo da alteridade. Concluindo, o autor tenta explicar a razão para Jesus não haver evitado Sua crucificação na implantação da missão heroica para transformar o deus patriarcal, do Velho Testamento, na Trindade, do Novo Testamento.