Liliana L. Wahba
A obra de arte transmite uma forte impressão estética e uma mensagem permeada de símbolos. A produção artística requer de seu criador o diálogo constante entre ego e inconsciente, ainda que haja momentos ou estados de maior imersão no inconsciente. Caso excepcional se dá quando o artista é psicótico. O aprofundamento no inconsciente coletivo faz parte da criação, assim como se faz presente a influência do inconsciente pessoal, cultural e de sua sombra grupal, denominada recentemente em psicologia analítica de complexo cultural. O artigo reflete sobre a importância da obra de arte como sinalizadora e restauradora de tais complexos. Há também um efeito de resgate de identidade, com apropriação religiosa-artística-cultural e dignificação do corpo e dos valores imbuídos e transmitidos pelo artista por meio de sua obra.
Luigi Zoja
O autor afirma que a civilização ocidental perturbou o equilibrio entre a polaridade maníaco-depressiva e a depressiva. A pressa e a superficialidade, as quais são constantemente alimentadas pela comunicação de massa, induzem a projeção de conflitos internos no mundo externo: estamos constantemente procurando inimigos para poder culpá-los. As teorias correntes de um “conflito de civilizações”, ao enfatizar diferenças inegáveis, receberam grande publicidade por explorar um fértil campo euro-americano: nossa predisposição para atitudes maníacas e paranoides. E apontada uma perspectiva histórica da cultura ocidental originária e as conquistas e mudanças ocorridas na China. A conclusão é que no final o Oriente equilibra a expansão maníaca com dúvidas, enquanto o Ocidente deixa a hybris ganhar. Utilitarismo e expansão andam lado a lado. Na pós-modernidade, nossa identidade é constantemente abalada. 0 conflito real e profundo inventado pelo Ocidente não é entre civilizações, mas entre identidade e sua venda barata a urna do utilitarismo faustiano e seus valores “neutron”. Um exemplo vem da American Psychological Association, a qual recentemente foi dilacerada por um debate sobre a questão se os psicólogos deveriam ou não participar do interrogatório dos prisioneiros de Guantánamo. Qualquer que seja o resultado, o custo dos interrogatórios e a perda da identidade, tanto para a psicologia como disciplina quanto para as liberdades sob ataque na maior democracia ocidental.
Áurea Afonso Caetano
Este trabalho pretende mostrar algumas aproximações possíveis entre a teoria junguiana e as neurociências. Para isso, traz as idéias de alguns junguianos contemporâneos que tem trabalhado com essas interseções: Miranda Davies, Jean Knox, Ernest Rossi, Louis Cozolino. Apresenta alguns conceitos junguianos como função transcendente, arquétipo, comunicação terapeuta-paciente e suas possíveis correlações neurofisiológicas. Pretende mostrar que os conceitos básicos da psicologia analítica de Jung tem sido cada vez mais corroborados pelos estudos atuais sobre o funcionamento da unidade mente-corpo.
Victor Palomo
O autor aborda as interseções entre o humor, riso e psicoterapia, fundamentando suas raízes arquetípicas, amplificadas com mito logemas dos deuses Apolo, Hermes e Dioniso, da mítica grega. Faz considerações acerca da dimensão trágica e cômica da existência, de forma a enfatizar que a presença do outro é uma inerência à comicidade.
Mario Jacoby
The question is whether and in what way Jungian psychotherapy is still effective for us, nearly 50 years after Jung’s death. The subject of general psychotherapy has undergone many changes, corrections and adjustments, for better or worse, and it is important to take notice of some modern developments. Yet insofar a modern therapist has taken serious and differentiated knowledge of some of these findings, he or she may meet in the writings of Jung still a profond wisdom concerning the essence of soul.
Este trabalho questiona, aproximadamente 50 anos após a morte de Jung, se a psicoterapia junguiana é ainda efetiva e, em caso positivo, de que forma ela funciona. A psicoterapia geral, para melhor ou pior, passou por muitas mudanças, correções e ajustamentos, e é importante observar alguns de seus desenvolvimentos modernos. Mesmo que o terapeuta moderno leve a sério e de modo diferenciado algumas das novas descobertas, ele ou ela podem ainda encontrar nos escritos de Jung uma profunda sabedoria referente à essência da alma.
Denise Gimenez Ramos; Reinalda Melo da Matta
O objetivo deste trabalho é o desenvolvimento de um método qualitativo-quantitativo com base para comparação e estudo de dados, de modo a permitir uma maior abrangência dos resultados obtidos por diversos terapeutas dentro de um enquadre homogêneo para diferentes casuísticas. Assim, concentra-se na construção de um método para analisar os resultados dos dados terapêuticos de cenas de sandplay. Visa principalmente criar um método para a padronização de dados gerados de expressões imagéticas e verbais utilizadas pelos pacientes ao trabalharem com sandplay e a definir um procedimento qualitativo e quantitativo que possibilite a comparação de dados entre vários pacientes. Os dados de três pacientes masculinos entre 6 e 8 anos de idade com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) são utilizados para demonstrar os procedimentos de pesquisa.
Maria Zélia de Alvarenga
O artigo questiona a interdição para o conhecer, situação emergente em muitas míticas, como na grega, judaíca, nórdica, etc. Correlaciona a aquisição da nova consciência à perda da imortalidade, porquanto esse novo conhecer torna-se um paradoxo quando associado à eternidade, pois o novo conhecer representa passar a ser um mutante, com o que o religar a Deus dever-se-á fazer com um novo conceito de Deus ou com um Deus da eterna transformação.