Revista Junguiana 11 – Vínculus – Esgotada
Mano: Um Ensaio Sobre o Amor Fraterno
Liliana Liviano Wahba
Mano: Um Ensaio Sobre o Amor Fraterno
Liliana Liviano Wahba
O artigo considera o aspecto positivo do arquétipo do irmão, assim como o laço de fraternidade entre as pessoas. No homem, o arquétipo se constela na parceria e na cooperação e como símbolo do Self. Na mulher, ele é vivido, externamente, num relacionamento de apoio e de amor e, internamente, pela força propulsora de seu animus.
Beatriz Mecozzi
Na história patriarcal ocidental as mulheres são identificadas pelos homens como o ‘sexo perigoso’. Manter distância desse Outro e controle sobre ele é a tentativa de afastamento desse perigo. Assim, as necessidades, as emoções e os afetos de Medéia, como de muitas mulheres, são particularidades ‘repugnantes’ aos ideais masculinos predominantes em nossa cultura. Medéia ao se entregar a essas emoções, esquece de demarcar seu amor, porque lhe falta a conciência da impossibilidade de um encontro total e é assim que contraria Jasão. À luz dessa desilusão que expressa as diferenças entre homens e mulheres e não permite a minimização de seus conflitos, a idéia de totalidade não resiste a uma observação mais detalhada. Neste fim de século, essa totalidade que se apresenta como alternativa para a fragmentação do mundo moderno é o ‘ponto cego’. É uma armadilha que impõe a escolha entre a universidade e a diferença absoluta.
Lúcia Azevedo
A partir da análise de uma breve retrospectiva histórica, a autora estuda a configuração da família, identificando o arquétipo do pai como seu regente e referindo-se especialmente ao mitologema dos Pais Devoradores. Identifica o eixo do Poder como o que define as polaridades desta constelação, o que leva a considerar a necessidade de revalorizar o feminino e a criança como dimensões destas polaridades, além de uma reavaliação do papel de pai. É feita uma discussão da questão do poder para a mulher, tanto em termos sociológicos quanto mitológicos. Constata-se que a psicologia tradicional, baseada na estrutura familiar patriarcal, não pode mais dar conta das modificações na família atual e das mudanças nos papéis do homem e da mulher nesta família. Uma discussão destas dificuldades leva à conclusão de que no momento qualquer tentativa de normatizar sobre a família, casamento ou desenvolvimento infantil que se apóie em configurações fixas ou teorias construídas ‘a priori’ leva a um redutivismo e a um fechamento da consciência possível sobre a cena atual.
Iraci Galias
Junguiana(11):44-65, jan.-dez. 1993
O artigo discute a relação sogra-nora, abordando seus aspectos criativos. As vivências no papel da nora, bem como as da sorgra são associadas ao mito de Afrodite e ao de Eros e Psiqué. Os aspectos arquetípicos são vistos dentro do desenvolvimento da consciência feminina.
Marfiza Ramalho Reis
O artigo discute as crises da adolescência e da meia-idade. Procura mostrar como são dois momentos de metanóia, de grandes transformações. Enfatiza os vinte anos da família ‘Sadia’ como sendo metanóia familiar, o tempo em que as vivências adolescentes e da meia-idade se misturam. Ressalta os sofrimentos e a criatividade decorrentes deste período adolescente do desenvolvimento familiar.
Sonia M. Falcão de Barros Carvalho
O artigo discute o atendimento familiar na análise infantil, partindo de um caso clínico onde a criança, quebrando padrões, traz concretamente a família para a análise, possibilitando, desse modo, uma transformação na dinâmica familiar e uma ampliação da técnica e da teoria analíticas.
Vanda Lucia Di Iorio Benedito
O trabalho apresenta e discute quatro tipos de dinâmica familiar, tomando como referência diferentes formas de relações conjugais, como fixações nos dinamismos matriarcal e patriarcal. A maior parte dos dados obtidos vem de uma série de Estudos Psicológicos de crianças na faixa etária entre quatro e dez anos.
Petra Affeld-Niemeyer
Com a ajuda de conceitos de Amati/Bleger e Jung, a perda do instinto e da realidade em vítimas de violência incestuosa foi descrita como uma regressão extrema a um estado filogeneticamente primário e indiferenciado de ‘ambigüidade’ e identidade. Neste estado, a identidade da vítima é usurpada em um estado petrificado de mimetismo com o agressor, bloqueando processos de diferenciação. Com base no trabalho terapêutico com uma mulher sexualmente violentada quando criança, cuja filha também era incestuosamente traumatizada, é demonstrado como, ao se propiciar processos simbólicos e imaginativos, podem ser abandonadas reações instintivas tais como a ‘thanatose’ da presa e a tentativa de encontrar significado através do auto-sacríficio, que coloca a vítima novamente em perigo. Ao se ativar a função transcendente, as imagens da história real e violenta podem ser opostas na vida interior, que no início é temida tanto quanto o agressor, pelo polo arquetípico positivo que permite uma separação das identidades aglutinadas agressiva e auto-agressiva. Isto leva a uma reanimação de reações instintivas de proteção e a uma melhoria e diferenciação das funções de realidade. Deve-se notar que não é a memória da violência real o que direciona a orientação terapêutica, mas as simbolizações sempre em movimento. A análise das experiências simbólicas leva à conclusão de que o pressuposto de que as crianças ‘afinal também desejam’ o incesto, com base em experiências positivas, não pode ser sustentada.
Nairo de Souza Vargas
O autor, utilizando-se de conceitos teóricos da Psicologia Analítica de Jung, faz reflexões sobre o casamento do ponto de vista psicológico, analisando suas características atuais. A partir de sua experiência como terapeuta de casal, procura trazer uma visão discriminadora dos vínculos de casal que possa ser útil clinicamente. O vínculo de casal é visto basicamente como parental e conjugal e suas deformações decorrem de inadequações nas estruturações dos dinamismos arquetípicos básicos de nossa personalidade.
Gloria Lotfi
Um estudo sobre o Processo de Individuação, dentro da riqueza simbólica do filme de Nikita Mikhalka, considerando o casamento e relações familiares. A autora trabalha o tema do incesto, na visão junguiana do mergulho ao interior de si mesmo para o resgate dos tesouros mais valiosos do ser humano. Esta viagem está, muitas vezes, fadada ao fracasso e à permanência num estágio de ego infantil, no enfraquecimento do Herói e na sua transformação no ‘filho amante’. O Processo de Individuação requer uma luta constante contra o fascínio do dissolver-se no Todo, o canto da sereia destruidora de tantos Heróis. São usados alguns aspectos do mito de Narciso para tratar o tema do casamento como relação de Alteridade, é enfocado o necéssário confronto com a sombra, momento crucial da vida, a batalha decisiva com o dragão interno, luta de vida ou morte.
Marco Antonio Spinelli
O autor fêz um relato de caso, com uma estrutura narrativa baseada no conceito de Gilles Deleuze do cinema moderno, onde a forma linear de narração é substituída por formas atemporais, não lineares, como no ‘Cidadão Kane’, de Orson Wells, cuja história segue o olhar de um repórter que investiga o significado das últimas palavras ditas por Kane: ‘Rosebud’. Esse artigo conta a história de L. A., uma paciente terminal seguida em um Hospital Geral, que foi analisada nos seus últimos dois meses de vida. Como no filme, a histótia começa com a morte de L. A., sendo o nosso ‘Rosebud’, o seu último sonho. O analista/repórter, chamado ‘R’, reconstrói em forma de quebra-cabeças a história de L. A., através do olhar das personagens: o marido, a filha, o médico e a relação analítica. Esse artigo toca no mistério da morte, baseado no pensamento de Jung do ‘Memórias, sonhos, reflexões’, e de Marie-Louise Von Franz em ‘Os Sonhos e a Morte’ (AU).
Carlos Amadeu B Byington
O autor compara a psicoterapia dinâmica exclusivamente verbal e aquela que emprega também técnicas expressivas dentro da perspectiva simbólica e transferencial. Considera qua as técnicas expressivas aumentam consideravelmente o potencial significado, pelo fato de serem ativados em maior extensão os componentes simbólicos, junto com uma maior possibilidade de vivenciá-los. Compara a técnica menos participativa e mais verbal com a mais participativa e menos verbal e favorece a segunda pela maior produção de significados, maior possibilidade do terapeuta exercer sua vocação e a sua criatividade, maior cooperação do paciente na terapia (inclusive do terapeuta) surgir e ser elaborada. Chama a atenção para o maior perigo da projeção da Função Transcendente no analista se tornar defensiva com a terapia exclusivamente oral. Na segunda parte, o autor descreve a técnica expressiva das Marionetes do Self e atribui sua originalidade à sua abrangência, que inclui a relação transferencial. Descreve as características das suas peças e da sua montagem. Esclarece que o seu uso pode ser terapêutico e pedagógico para ensino normal ou supervisão. Finalmente, na terceira parte, o autor tece considerações sobre as restrições e resistências à participação ativa do consciente na terapia e as atribui basicamente ao redutivismo da psicologia dinâmica ao insconsciente, tanto por Freud (o reprimido e o Id) quanto por Jung (inconsciente coletivo). Baseado na proposta de ampliação do conceito de arquétipo para englobar também o consciente e do conceito de símbolo para englobar também o objetivo, o autor propõe a elaboração simbólica igualmente a partir da perspectiva consciente e inconsciente. Em função dessa ampliação teórica, teoriza que as técnicas behavioristas, cognitivas e até mesmo a psicofarmacoterapia podem ser usadas também como técnicas expressivas da psicoterapia dinâmica, desde que sejam exercidas dentro da perspectiva simbólica e transferencial.