16 de Junho de 2022. Anunciam-se as mortes de Bruno Pereira e Dom Philips. Bruno foi funcionário da FUNAI, exonerado pelo então ministro da justiça Sérgio Moro, em consonância com a política de desmantelamento da FUNAI pelo presidente Jair Bolsonaro.
Bruno havia capitaneado uma operação de destruição de balsas de garimpeiros na região amazônica. Dom era jornalista afiliado ao Guardian, jornal inglês, e também dava aulas de inglês gratuitamente na periferia de Salvador, onde vivia com sua esposa, uma antropóloga brasileira.
O assassinato é um duplo. Morrem a luta pela liberdade dos indígenas e o respeito às suas terras. Morre a luta pela liberdade de expressão. Um ativista, indigenista e um jornalista apaixonado pela natureza nativa da região amazônica. Para Dom, quando questionado sobre sua espiritualidade, a amazônia era a imagem de deus.
Quais de nós seremos os Jós que pedirão resposta? Chegamos ao momento em que o homem não questiona deus, em vez disso nós o assassinamos. A morte dos protetores da floresta é a nossa morte em nome de uma defesa apaixonada de supostos valores que advogam pela liberação das armas, a exaltação da família heterossexual monogâmica cristã e a destruição de nossos biomas em nome de um desenvolvimento agropecuário e industrial. Para quem?
Nesse momento em que o próprio telos é questionado, é preciso afirmar que a busca de sentido (a pergunta ‘para quê?’) não é um fim em si mesmo. Não se busca a finalidade para finalizarmos a angústia. O sentido é um meio para a compreensão da vida e para que nossa experiência como vivos continue energizada e animada como, tantas vezes, o planeta nos proporciona. Nós, entretanto, continuamente optamos pela morte. Nós assassinamos o outro. E, ainda assim, não parece ser suficiente para que sejamos parados. Nós precisamos parar de nos matar.