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Revista Junguiana 34

Revista Junguiana 34

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revista junguiana 34Corrupção no Brasil: Uma Visão da Psicologia Analítica

Camila Souza Novaes

Nos últimos anos, a mídia internacional expôs vários escândalos relacionados à corrupção, que demonstraram não só a fragilidade dos sistemas políticos mas também a escala global da corrupção. A corrupção não é apenas um tema da moda, mas um fenômeno global gravíssimo que parece ter peculiaridades entre os países. No Brasil, a corrupção é um problema que oprime a sociedade, mas que parece estar diretamente relacionado à identidade coletiva do brasileiro e, para muitos, ela é intrínseca ao “jeitinho brasileiro”.

 

Apesar de a corrupção ser um assunto de discussão recorrente para diferentes campos de estudo, a maioria das teorias existentes sobre a corrupção é unilateral e parcial. Elas se concentram em apenas uma parte do problema, colocando a responsabilidade ou na falta de moralidade de brasileiros e seus políticos ou na ineficiência do sistema judiciário. A opinião do público leigo é superficial e tende a concluir de maneira projetiva que a corrupção é responsável por todos os problemas do país. A psicologia analítica pode contribuir com novas abordagens para o estudo do fenômeno da corrupção. Aplicando valores psicoterapêuticos a questões políticas, esta pesquisa pode vir a ajudar psicoterapeutas a abrir um caminho de duas vias entre “realidades internas” e o “mundo da política”, como propõe Andrew Samuels. Propõe-se aqui um olhar mais atento para a relação entre a realidade interna do povo brasileiro e o mundo da política no Brasil, particularmente a corrupção brasileira.

 

O objetivo deste artigo é analisar a corrupção em seus três diferentes (mas complementares) níveis: individual, cultural e coletivo. Discutimos os complexos culturais brasileiros e traumas culturais que já foram identificados por junguianos brasileiros e que possam estar relacionados ao atual cenário político-social do país, especialmente a versão brasileira do arquétipo do trickster (que parece estar oprimindo a psique brasileira) e o complexo cultural do malandro, que não foi ainda analisado em detalhe. Argumenta-se também que a corrupção política deve ser vista não apenas como um ato egoísta de um indivíduo, mas de forma mais ampla, como um construto social e também como algo relacionado à corrupção da própria natureza humana.

 

Me dê uma Mão? Ou, Quando a Ajuda é Dizer “Não”

Sylvia Mello Silva Baptista

O presente artigo propõe uma reflexão sobre o conceito de ajuda no espaço clínico a partir do mito de Eros e Psiquê, chamando atenção à piedade ilícita e à necessidade de dizer “não” no processo individual de ampliação do conhecimento de si.

 

Sandplay: Conflito e Criatividade Plasmados na Areia

Patrícia Dias Gimenez

O artigo tem como objetivo refletir sobre a prática clínica do analista que trabalha com imagens, com foco principalmente no sandplay, o “brincar na areia”, técnica criada por Dora Kalff na Suíça e trazida ao Brasil por Fátima Salomé Gambini.

 

A partir de um trecho de uma crônica do escritor brasileiro Rubem Alves, a autora defende a possibilidade e a necessidade de ampliarmos nosso olhar de analistas. O texto ressalta a importância de o analista junguiano exercitar seus “olhos brincalhões” (termo utilizado por Rubem Alves na crônica), isto é: o analista precisa trabalhar para conquistar um olhar amplo e não limitado à necessidade de interpretação imediata do símbolo. Para isso, o analista precisa investir no desenvolvimento da sua capacidade imaginativa e precisa conquistar uma liberdade imaginativa para possibilitar o contato criativo do paciente com suas imagens inconscientes plasmadas na areia.

 

A autora defende que o analista junguiano que trabalha com imagens, seja com sandplay, barro, pinturas ou no trabalho com sonhos, vive um eterno processo de vir a ser um analista. Ele nunca está pronto, está constantemente em formação, está sempre aprendendo com as imagens.

 

Uma Explicação Aquetípica da Crucificação de Jesus Pela Teoria Arquetípica da História*

Carlos Amadeu Botelho Byington

Minha teoria arquetípica da história (BYINGTON,1983) segue os passos de Bachofen e de Neumann com a modificação do conceito do arquétipo matriarcal para o arquétipo da sensualidade, e do arquétipo patriarcal para o arquétipo da organização, ambos presentes na psique da mulher, do homem e do Self cultural (BYINGTON, 2013).

 

Essa teoria descreve a dominância matriarcal durante a vida nômade dos primeiros 140 mil anos da história (WATSON, 2003) e a dominância patriarcal iniciada após a revolução agropastoril, mais de 12 mil anos atrás, quando nos tornamos povos assentados.

 

A seguir, marcada pelos mitos do Buda, há 2.500 anos, e do Cristo, há 2 mil anos, essa teoria descreve o início da implantação mitológica e civilizatória do arquétipo da alteridade, cujos heróis messiânicos pregam a elaboração dos confrontos humanos pela dialética da compaixão.

 

Finalizando, o artigo elabora a dificuldade da transcendência da dominância do arquétipo patriarcal para a implantação do arquétipo da alteridade. Concluindo, o autor tenta explicar a razão para Jesus não haver evitado Sua crucificação na implantação da missão heroica para transformar o deus patriarcal, do Velho Testamento, na Trindade, do Novo Testamento.