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Revista Junguiana 33

Revista Junguiana 33 -Anima-Animus




revista junguiana 33Anima-Animus e o Desafio do Encontro

Maria Zelia de Alvarenga

A proposição do texto é pensar as emergências anímicas (anima e animus) como estruturas arquetípicas presentes tanto no homem quanto na mulher. Ambas se manifestam no homem e na mulher como complexos estruturantes. Ao se manifestarem apresentam características próprias definidas como dedicação exclusiva lealdade-fidelidade, transcendência do dever pelo ser e coniunctio com o si mesmo. A coniunctio com o si mesmo representa condição intrínseca do processo de individuação e se expressa pela geração do novo anthropos; a integração das insuportabilidades. O texto também trata da natureza dos talentos e a responsabilidade sobre o que fazemos com eles, da importância da função simbólica e do exercício do herói anônimo.

 

Compreensão Arquetípica da Homossexualidade

Adailson Moreira

Neste artigo, refletimos sobre os elementos ligados à formação da anima/animus e como o conteúdo destes arquétipos refletem o histórico pessoal e coletivo e também como se dá a influência dos mesmos na vida das pessoas, chegando à conclusão de que a alma (ou psique) possui a qualidade de ser andrógina, por comportar as duas polaridades sexuais, que vão originar uma personalidade singular, a qual não se encaixa em nenhuma classificação possível, exatamente por ser única. Com isso, podemos entender o funcionamento homossexual da mesma forma que o funcionamento heterossexual, dentro de todas as suas vertentes e possibilidades.

 

Anima, Animus e a Lei Maria da Penha: O Relato de um Encontro

Patricia Souza Braga

O presente artigo tem como objetivo apresentar um relato a partir do olhar analítico sobre o conflito entre homens e mulheres e que, nesses casos específicos, tem como desfecho a violência e a atuação da justiça. Pretendo apresentar os homens para além do ato violento, lidando com forças inconscientes poderosas, buscando outros modos de se relacionarem.

 

Traição: Um Desígnio?

Denise Batista Pereira Jorge

O objetivo deste texto é refletir sobre a traição nos relacionamentos amorosos, analisando seu impacto na psique dos envolvidos e o papel dos arquétipos animus e anima numa vivência de traição. O ser humano tem uma tarefa a realizar: tomar posse do seu desígnio e assumir seu processo de individuação, realizando aquilo que é só dele. Quando o indivíduo não assume essa responsabilidade, ele trai a si mesmo, e se isso não for reconhecido haverá uma tendência de que ele encontre a traição fora dele – traindo ou sendo traído por alguém. Embora uma traição gere sofrimento, sua ocorrência pode ser relevante para o processo de desenvolvimento psíquico dos envolvidos. A traição “revela” que a pessoa está se traindo, que algo está sendo negligenciado e precisa ser cultivado para haver ampliação de consciência. Dentro de uma visão simbólica, a traição é um desígnio. Ela faz parte da vida desde o nosso nascimento e é necessário trair para que haja desenvolvimento psíquico.

 

Harry Potter: Um Herói em Busca de sua Anima

Fernanda G. Moreira

O presente trabalho tem por objetivo a análise simbólica da obra literária e cinematográfica Harry Potter de acordo com o referencial da psicologia analítica. Na amplificação simbólica da saga procurou-se compreender clinicamente o desenvolvimento anímico de Harry Potter, especialmente facultado por seu encontro com Gina Weasley, aquela que viria a se tornar sua esposa e mãe dos seus filhos. O foco do estudo foi delimitado segundo o eixo temático adolescência e processo de individuação. Ao longo do processo relatado, “o menino que sobreviveu” simboliza a criança ferida e o adolescente que encontra com tutores de resiliência que o auxiliam a confrontar suas feridas e consolidar sua identidade. Conclui-se que, ao final da saga, o personagem abre mão do poder ilimitado, supera a ferida e as defesas narcísicas, podendo entregar-se a um relacionamento maduro e fértil.

 

O Céu e o Inferno de ser Analista: Uma Visão da Psicodinâmica na Atualidade

Roberto Rosas Fernandes

Os primeiros pensadores das escolas de psicologia profunda retrataram dinâmicas vinculares que estruturam o desenvolvimento do eu e são arquetípicas. No entanto, o sujeito da atualidade já não é o mesmo da época em que os pioneiros viveram. Os ideais condutores da energia psíquica são outros. Hoje, o eu onipotente se sobressai e a anima coletiva está mais exuberante que o grande pai. A necessidade de reforçar a autoimagem e o anseio de satisfazer as demandas narcísicas do eu grandioso (que não tem compromisso com a realidade nem com o corpo afetivo), levam o sujeito pós-moderno à submissão à sombra, como ilustra o caso de uma analisanda tomada pelo animus negativo, aqui descrito. O analista encontrará alívio para a angústia que pode emergir com as demandas desse novo paciente na abertura ao estudo de linguagens diferentes daquela de sua escola de filiação, para chegar a novas sínteses da psicodinâmica. É preciso, também, que ele tenha feito o trabalho interno de conscientização da própria subjetividade, de modo a poder empatizar a subjetividade do outro e obter insights importantes com a contratransferência.

 

O Arquétipo da Ania, A Sexualidade, o Amor e a Ferida de Amforteas:

Uma Interpretação da Psicologia Simbólica Junguiaa da Lenda do Graal – Carlos Amadeu Botelho Byington

Baseado no referencial teórico da psicologia simbólica junguiana, o autor analisa o símbolo da ferida do rei Amfortas na lenda do Graal. Nesta teoria, os arquétipos matriarcal, patriarcal, da anima, do animus e da alteridade não se restringem ao individual, ao masculino ou ao feminino, pois todos esses arquétipos incluem os dois gêneros e a dimensão cultural. O processo de individuação é aqui concebido pela formação do ego pelos arquétipos desde o início da vida. Os mesmos arquétipos coordenam os símbolos para formar a consciência no Self cultural, segundo a teoria arquetípica da história (Byington, 2008, cap. XIII). As três primeiras etapas arquetípicas da vida – gestação, primeira infância (0-2 anos) e segunda infância (2-12 anos) – são regidas pelo quatérnio primário (com a formação do ego na posição passiva) por meio dos complexos materno e paterno, pelo vínculo entre os pais e pelas reações da criança. A partir da adolescência (quarta fase: 12-20 anos) são ativados os arquétipos da anima, do animus e da alteridade para polarizar com os pais e para o ego passar a integrar conteúdos dos arquétipos matriarcal e patriarcal na posição ativa. Na etapa adulta (20-40 anos) o ego integra e atua de forma crescente os conteúdos dos arquétipos matriarcal e patriarcal na posição ativa. Na transição para a maturidade, (40-60 anos), segunda adolescência ou metanoia, ativam-se conteúdos dos arquétipos da anima, do animus e da alteridade na posição ativa. Essa transição é a missão redentora do herói inocente e tolo Parsifal, na lenda do Graal, pois foi nela que o rei Amfortas caiu na tentação de Kundry, dominada pelo feiticeiro Klingsor. Em virtude da sua lascívia, o rei Amfortas perdeu para Klingsor a lança sagrada do Graal e este o feriu, abrindo no seu flanco uma lesão maldita e incurável. Essa ferida trouxe a desgraça da fixação matriarcal de Amfortas e do reino do Graal. Seu significado é aqui elaborado no nível individual e cultural. Parsifal é o herói inocente-tolo do arquétipo da alteridade, que resiste à tentação de Kundry, resgata a lança, anula a feitiçaria de Klingsor e destrói seu castelo. Ao curar a ferida de Amfortas com a lança que o feriu e a Jesus, Parsifal salva o reino, resgata a fixação matriarcal e patriarcal do Self individual e do Self cultural e se torna rei do Graal. No nível mitológico o herói Parsifal pode ser associado a Cristo e a Buda. Parte inferior do formulário.